segunda-feira, 30 de julho de 2012

O surgimento da internet no Brasil


O engenheiro eletricista Demi Getschko pode ser considerado um ícone na história da internet brasileira. O diretor presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), conselheiro do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI) e professor da PUC-SP, conduziu, na década de 1980, a partir da Fapesp, os trabalhos que levariam o país a se conectar à rede mundial de computadores.

Em entrevista exclusiva à revista GV-executivo, Demi contou suas percepções e revelou que não aprecia ser denominado “pai da internet brasileira”.

Você conduziu a equipe que, 20 anos atrás, foi responsável pela primeira conexão brasileira com a internet. Como você chegou a essa posição?
O caminho começou na Universidade de São Paulo. Eu sou engenheiro eletricista, formado em 1975 pela Poli-USP, e sempre trabalhei na área digital. Comecei a me envolver com essa área em 1972, ainda como aluno de graduação, quando me tornei estagiário do Centro de Computação Eletrônica da USP, o CCE. Logo depois de formado, comecei o Mestrado e depois fiz o Doutorado, sempre na Poli, e continuei trabalhando no CCE, onde fui galgando algumas posições. Com isso, o meu envolvimento com computadores e redes não parou mais.

E como isso nos leva ao nascimento da internet brasileira?
Dois episódios foram importantes. O primeiro ocorreu em 1985, quando eu fui convidado para trabalhar na Fapesp, a Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo. Eles estavam montando um centro de processamento de dados, um CPD convencional, com o objetivo de automatizar os processos de controle de bolsas e auxílios, e aí me contrataram para tocar esse projeto. E o segundo episódio aconteceu por volta de 1986 ou 87, quando começou um movimento, principalmente entre os físicos da USP, mas também da Unicamp e da Unesp, de pesquisadores que voltavam de seus doutorados no exterior e sentiam falta de uma conexão internacional para não perderem contato com seus grupos de pesquisa lá fora. E ainda no Rio, a UFRJ era outra que tentava ver se fazia algo de forma independente. Conheci gente como o professor Michael Stanton, da PUC do Rio, entre outros, e percebemos que estávamos meio que batalhando pelo mesmo objetivo.

Então, a primeira conexão internacional brasileira não foi a da Fapesp por uma questão de
semanas?
Sim, mas veja. Como nós, na Fapesp, demoramos um pouquinho, quando fomos pedir ao Laboratório Fermi para fazer a nossa conexão, a resposta que tivemos deles foi a seguinte: “Olhe, essa história de ligar máquinas isoladas à Bitnet sem ser dos Estados Unidos não é uma boa ideia. Os europeus, quando se ligaram à Bitnet, criaram uma rede deles chamada EARN, European Academic Research Network, e a EARN é que é ligada à Bitnet”. Foi aí que criamos uma rede chamada ANSP, que era a sigla de “An Academic Network at São Paulo”. A ANSP foi constituída de cinco máquinas – USP, Unicamp, Unesp, IPT e Fapesp –, e conseguimos a entrada dessa rede na Bitnet. Isso gerou a primeira conexão coletiva do Brasil, porque a primeira conexão, a do LNCC, era individual.

Para concluir, como você enxerga a evolução da internet no futuro próximo?
A principal mudança resultará da chegada recente do IPv6, a nova versão do protocolo IP. A quantidade de endereços possíveis na rede passa a ser tão enorme que qualquer coisa vai poder ter um número IP. Daí vem a história de que todas as coisas poderão endereçar e ser endereçadas na rede: celulares, canetas, eletrodomésticos, qualquer objeto. E, certamente, pessoas espertas desenvolverão aplicativos que farão essas coisas se comunicarem da melhor forma possível. Isto é o que o pessoal está chamando de “internet das coisas”.

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